Por Dra. Débora Castelo Branco
A epilepsia é uma doença neurológica crônica caracterizada por alteração temporária e reversível no funcionamento do cérebro. Ela não tem cura, contudo pode ser controlada.
Segundo a Associação Brasileira de Epilepsia denomina-se epilepsia refratária aquela em que as crises epilépticas persistem mesmo após o uso de pelo menos duas medicações devidamente indicadas para o tipo de epilepsia (focal ou generalizada), utilizadas ou não em associação com outras medicações. Este tipo de epilepsia representa 30% dos casos. Depois deste diagnóstico, é possível realizar novas tentativas com medicamentos diferentes, entretanto é indispensável orientar o paciente quanto à possibilidade de agregar um tratamento dietético ao medicamentoso.
A dieta cetogênica (DC) é uma alternativa segura e eficaz para o tratamento de epilepsia refratária no público pediátrico, principalmente em lactentes, pré-escolares e em casos de encefalopatias epiléticas. Consistindo no tratamento não farmacológico mais utilizado na última década, visto que cerca de metade dos pacientes consegue uma diminuição de 50% no número de convulsões e quase um terço uma redução de 90%.
Essa dieta caracteriza-se por ser rica em alimentos fonte de lipídeos, ou seja, gorduras, com níveis reduzidos de proteínas e carboidratos. Dessa forma, a fonte primordial de energia do organismo passa a ser a gordura externa, recebida através da dieta e a gordura interna corporal, ao invés da glicose, como ocorre habitualmente.
O mecanismo de ação pelo qual a DC apresenta um efeito antiepiléptico ainda permanece em investigação. A principal hipótese baseia-se no fato de que os corpos cetônicos, sintetizados no fígado a partir dos ácidos graxos de cadeia longa e média (derivados das gorduras da dieta) são anticonvulsivantes diretos que, ao entrar no cérebro, funcionam como uma fonte primária de energia e induzem um estado de Cetose, o qual aumenta a estabilidade neural e os níveis de ácido gama amino butírico (GABA) nos terminais nervosos, gerando um efeito de neuroproteção.
Quando viável esse padrão alimentar é indicado como tratamento durante dois a três anos, podendo ser prolongado de acordo com a resposta clínica do paciente. Sendo imprescindível o acompanhamento com nutricionista, que deverá elaborar um cardápio personalizado, assim como ajustar a suplementação de vitamina e minerais. Além de acompanhar o progresso dietético e clínico do paciente.
Referências Bibliográficas:
Alberti, Agustinho, Argumedo, Armeno, Blanco, Bouquet, & Cabrera. (2016). Recomendaciones para el manejo clínico pediátrico de la dieta cetogénica en el tratamiento de la epilepsia refractaria.
Associação Brasileira de Epilepsia – ABE. (2021) Dieta cetogênica e epilepsia refratária. 21 novembro. 2021. https://epilepsiabrasil.org.br/dieta-cetogenica-eepilepsia-refrataria.
De Carvalho, L. A. N., et al. Revisão sistemática sobre os efeitos do canabidiol na epilepsia infantil. Brazilian Journal of Development, 7(6), 63347-63361, 2021.
Dos Santos, D. K., et al. Utilização da dieta cetogênica como estratégia para o manejo de pacientes com epilepsia refratária: uma revisão da literatura. International Journal of Health Management Review, 5(1), 2019.
Kossoff EH, Zupec-Kania BA, Amark PE, Ballaban-Gil KR, Christina Bergqvist AG, Blackford R, et al. Optimal clinical management of children receiving the ketogenic diet: recommendations of the International Ketogenic Diet Study Group. Epilepsia. 2009; 50(2):304.
Sampaio, L. P. B. Dieta cetogênica no tratamento da epilepsia. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. 74(10), 842-848, 2016.
Sampaio L. P. B. ABC da dieta cetogênica para epilepsia refratária. 1st ed. Rio de Janeiro: DOC Content, 2018.
Yudkoff M, Daikhin Y, Melo TM, Nissim I, Sonnewald U, Nissim I. The ketogenic diet and brain metabolism of amino acids: relationship to the anticonvulsant effect. Ann Rev Nutr. 2007; 27:415-30.