Por Dra. Carolina Meireles Rosa
Trata-se de conceito que se originou no final da década de 1980 como resultado de um estudo bastante revelador. Os cientistas analisaram os cérebros de um grupo de pessoas e encontraram alterações típicas de ter sofrido da doença de Alzheimer em estágio avançado.
No entanto, durante a vida, esses indivíduos não apresentaram qualquer sintoma da doença. Mas o que poderia estar por trás disso?
“Eles tinham uma reserva cognitiva grande o suficiente para compensar os danos e continuar funcionando normalmente”, afirma a Harvard Health Publishing, publicação da escola de medicina da Universidade Harvard (EUA) no artigo “O que é reserva cognitiva?”.
Isso é uma boa notícia, e fica ainda mais positiva porque é possível, ao longo da vida, tentar construir uma forte “reserva cognitiva” para fortalecer as redes do cérebro.
Mas como?
Segundo Manuel Vázquez Marrufo, professor do departamento de psicologia experimental da Universidade de Sevilha (Espanha), reserva cognitiva é o que se chama de “construto” em psicologia e neurociência. Ou seja, um conceito usado para tratar de uma teoria, mesmo que “não se saiba ao certo quais correlatos fisiológicos estão realmente por trás disso”.
O especialista define a reserva cognitiva como “uma espécie de propriedade” que temos – um produto da experiência – e que “nos protege efetivamente contra lesões que ocorrem no cérebro”.
Para a publicação de Harvard, é “a capacidade do nosso cérebro de improvisar e encontrar formas alternativas de fazer tarefas”.
Isso se chama reserva cerebral e está mais relacionado à capacidade do cérebro de gerar novos neurônios, com a força da sinapse, com “o hardware do cérebro”, com sua estrutura.
A reserva cognitiva, por sua vez, é tida como o que se acumula através de nossas atividades diárias e tem mais a ver com a atividade cognitiva que foi desenvolvida desde o nascimento.
Dessa forma, uma combinação do que você tem em sua reserva cerebral e o que você tem em sua reserva cognitiva deve ser determinante para “como o cérebro lidará com lesões ou doenças neurodegenerativas”, diz Vázquez.
“Para o mesmo dano cerebral em dois pacientes com a mesma reserva cerebral, o paciente com maior reserva cognitiva poderá tolerar melhor o dano e retardar as manifestações clínicas.
Em outras palavras, reserva cognitiva designa o conjunto de recursos cognitivos que uma pessoa consegue adquirir ao longo de sua vida, e que conferem proteção contra o envelhecimento e lesões cerebrais”.
No livro “Reserva Cognitiva: Teoria e Aplicações”, Yaakov Stern, professor de neuropsicologia da Universidade Columbia (EUA), afirma que a reserva cerebral é um exemplo do que poderíamos chamar de “modelo de reserva passivo”, que deriva do tamanho do cérebro e da contagem neural.
“Por outro lado, o modelo de reserva cognitiva sugere que o cérebro tenta ativamente lidar com danos cerebrais por meio de abordagens de processamento cognitivo pré-existentes ou de abordagens compensatórias.”
O neurocientista, que tem estudado a reserva cognitiva por décadas, busca entender “por que alguns indivíduos apresentam mais déficit cognitivo que outros com o mesmo grau de patologia cerebral”.
“Minha própria pesquisa, ao lado de outros pesquisadores, tem demonstrado que aspectos da experiência de vida, como realizações educacionais ou ocupacionais, podem oferecer uma reserva contra a patologia cerebral, permitindo que algumas pessoas se mantenham funcionais por mais tempo que outras.”