Por Dra. Kilvânia Martins
O mês de outubro é o mês escolhido para chamar atenção aos casos de perda gestacional e neonatal, casos de mães e pais que perderam seus filhos durante a gestação ou após o nascimento, é uma campanha que vem ganhando visibilidade, uma causa que exige sensibilidade, cuidado e respeito.
A Organização Mundial de Saúde faz uma distinção entre as perdas que podem acontecer antes da expulsão ou retirada do bebé do corpo da mãe, independentemente da idade gestacional (a morte intrauterina pode ocorrer antes do início ou durante o trabalho de parto) das que ocorrem após o nascimento, sendo que até ao 7º dia após o parto, é uma morte neonatal precoce e, entre o 7º e o 27º dia posteriores ao parto, uma morte neonatal tardia.
Essas perdas constituem um evento traumático, pois é um acontecimento que ocorre de forma inesperada, que traz muita dor e consequentemente, a vivência de um luto. Diante da perda, podem ser manifestadas algumas reações como manifestação emocional, cognitiva, bem como podem aparecer algumas mudanças de comportamento.
Devido ao caráter súbito da morte do feto ou recém-nascido, o choque sentido pelos pais perante a notícia acentua a dificuldade destes em aceitar esse acontecimento, pois não estavam preparados emocionalmente para a perda. Independente da fase da gestação a perda provoca um sofrimento intenso, relacionados aos conflitos causados entre a vida e a morte, em um momento que só se enxerga a vida. Esse bebê já existia para os pais, já existia todo um planejamento de uma vida com a vinda dele, independente de já terem visto seu rostinho ou não.
O processo de luto pode passar por vários momentos e somente é concluído quando a pessoa é capaz de integrar emocionalmente a perda e, assim, prosseguir a sua vida. Isto não implica abrir mão da relação com o bebê, mas sim em gerenciar de uma maneira que permita aos pais continuarem a sua vida após a perda.
Assim, cabe aos profissionais de saúde que atuam nesse contexto oferecerem uma assistência humanizada nesses casos. Além da assistência médica, deve-se oferecer um suporte emocional que favoreça o enfrentamento diante desse momento tão difícil, reconhecendo e compreendendo os aspectos emocionais e cognitivos envolvidos nessa situação de perda, que são vivenciados de forma singular por cada mulher e casal.
Referências:
Nazaré,B. et al. Avaliação e Intervenção psicológica na Perda gestacional. Revista Peritia | Edição Especial,2010, 3, 37-46: Psicologia e Perda Gestacional. Disponível em: URL https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/14322/1/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20e%20interven%C3%A7%C3%A3o%20psicol%C3%B3gica%20na%20perda%20gestacional.pdf
Santos, D.P.B.D. A elaboração do luto materno na perda gestacional. Disponível em: URL https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/20463/1/ulfpie047422_tm_tese.pdf